Tempos Pandêmicos
Marcos Bispo dos Santos
Era a semana da Festa do Padroeiro da cidade de Itabuna, São José. Dia 18 de março, um dia antes do Feriado Municipal, saiu o Decreto estadual, suspendendo as aulas na Rede Estadual de Ensino. Na Rede Municipal estávamos de recesso – ainda do calendário não concluído de 2019. Como todos sabem, um choque. A realidade se impôs ao que, até então, acompanhávamos acontecendo distante de nós, em outros estados ou em poucas cidades da Bahia, como Feira de Santana, Porto Seguro e Salvador.
Ainda no mês de março, Itabuna, cidade em que vivo e trabalho, teve o seu 1º caso da Covid19 e, de lá pra cá, foi uma sucessão de recordes negativos, chegando à atual marca de cidade com o maior número de contaminados da Bahia, por mil habitantes e um dos dez do Brasil. Aliás, é comum o município natal de Jorge Amado figurar entre os primeiros do Brasil, sempre que existe um “ranking” negativo de qualquer índice, seja entre os municípios do Brasil mais violentos para jovens abaixo dos 25 anos; ou dentre os que têm prefeito com o maior salário nominal (o atual é três vezes ex-prefeito, já constou de uma edição da revista VEJA, como tendo um salário maior do que o então Presidente dos EUA, George W. Bush) e em 2020, o mesmo chefe do executivo não está distante do antigo título.
“Os grandes julgamentos do século”; biografias, como a de Pedro Casaldáliga e publicações de história, como “1822”
Viver num lugar assim, aliado ao fato de ser Educador por vocação, compromisso e consciência do meu papel, tornou o que antes chamaram de “quarentena” – mas depois aprendemos que é Isolamento Social – em mais uma oportunidade para muitas leituras (livros de articulistas, como “Os grandes julgamentos do século”; biografias, como a de Pedro Casaldáliga e publicações de história, como “1822”, de Laurentino Gomes). Além disso, de dois meses para cá, os famosos trabalhos “home office” passaram a compor meu cotidiano, a princípio, para a Unidade de Ensino do Estado; recentemente, também para a Escola Municipal. Atuo como professor de Linguagens nas duas e em uma delas, também de Sociologia e Língua Espanhola. Como todo mundo, tive momentos de tristeza, quase depressão (perdi amigos e até familiar de muito perto) nesse período. Mas também, como muitos, ouso dizer, que o pior já passou: enxergo luz nas pesquisas e testes de vacinas da FioCruz e Universidades aliadas do mundo inteiro, sobretudo as de Oxford e Chinesas; tenho conseguido chorar menos e por uma razão ou outra, tomar um vinho, em casa, às 6ªs feiras.
Prof. Marcos Bispo Santos, Educador concursado na Área de L.P.L.B. das Redes Municipal e Estadual de Educação de Itabuna (BA). educadorpolitico@hotmail.com
Tempos Pandêmicos
Maria D'ajuda Martins Larcher
19 de março de 2020, os olhares se voltaram ao invisível desconhecido. O medo foi querendo, aos poucos, se instalar. Definir a sensação de afastamento, isolamento, daquele momento, foi muito impreciso. O organismo começou a falar com uma tremenda dor de cabeça. Sintoma preciso à entrada do visitante invisível. Nada, começo de uma ansiedade natural.
De maneira voraz seguia a CIÊNCIA. O que me deu segurança e firmeza para encarar o resultado positivo de meu filho, 22 anos, jovem, um pouco desatento aos protocolos e orientação materna. Um mês após o isolamento, eu e Lipe (ele amadurecendo… que experiência) num diálogo sútil de entendimento, vivência, aproximação e afastamento. Assim como a vida se apresenta. Na contradição. Uma contradição necessária para chegar ao equilíbrio físico, emocional e espiritual.
“Definir a sensação de afastamento, isolamento, daquele momento, foi muito impreciso.”
E assim os dias iam ficando menos densos de incertezas e mais densos de fé, luz e esperança, apesar de tantas mortes. A sensação e percepção de estar isolada, sendo grupo de risco, estava mais definida. O tempo afastada do convívio social foi conectando-me comigo mesma, de forma egoísta, sem dúvida. Mas… a espiritualidade é muito generosa e atenta aos sinais… obedeci.
Afinal, depois de quase três décadas como profissional da educação. Duas delas trabalhando três turnos. Duas escolas, família, filhos, um câncer de mama, um divórcio. Veio uma luz e sinalizou-me. Pare. Não precisa dialogar com as instituições, não procure tantas respostas.
Então… Fui dialogar com as plantas, meu cachorro, meus filhos, o sol, a chuva, o vento.
Hoje, agora e sempre muito mais ligada com o divino nessa caminhada.
Profª Maria D’ajuda Martins Larcher é graduada em Letras, docente do colégio Estadual de Salobrinho.
Tempos Pandêmicos
Por Amanda Romeiro
A Pandemia chegou trazendo um turbilhão de emoções. Nos primeiros dias de isolamento, o pânico tomou conta de mim e não conseguia ver possibilidades para continuar as atividades pedagógicas com meus alunos. Essa sensação de impotência durou alguns dias e foi diminuindo após contactar alguns alunos e perceber que seria possível realizar as aulas através de ferramentas virtuais.
Essa transição para um ensino remoto foi e está sendo muito desafiador, pois além de lidar com todo o stress da pandemia, temos oscilações na internet, no meu caso, alunos que estão em estado de adoecimento e com isso não conseguem gerenciar seu tempo e assim muitas vezes não realizam as atividades. Mesmo com tantos obstáculos, estamos conseguindo caminhar, adaptando o currículo para que o conhecimento seja assimilado, sem nos preocuparmos obrigatoriamente com o ano letivo.
“Essa sensação de impotência durou alguns dias e foi diminuindo após contactar alguns alunos e perceber que seria possível realizar as aulas através de ferramentas virtuais.”
Enfim, depois de seis meses, dois sentimentos caminham ao meu lado, a angústia de ainda não ter conseguido atender a todos os meus alunos e a alegria em observar o mundo aprendendo que a educação está além da escola física. Que possamos caminhar na perspectiva de que a educação é a solução desse país.
Amanda Romeiro, professora da classe Hospitalar Estadual do Hospital Geral Roberto Santos. Salvador,31 de agosto de 2020.
Tempos Pandêmicos
Por Mary Lucy Lima
A Filosofia é o conhecimento do pensar, e nos diz que se deve olhar a vida com espanto, admiração e surpreender-se com o ordinário, trivial, espaço do qual deriva a condição de problematizar. Banzar é uma palavra de origem hauçá-africana, e significa pensar, refletir, matutar, pasmar, espantar. Assim, o nome Banzar cabe bem à proposta de uma revista cuja finalidade é a da produção acadêmica, dialógica e extensionista.
A Banzar Magazine é uma utopia coletiva, nascida do sonho que o nosso colega, Carmoly Carteado Monteiro Lopes Filho, trouxe consigo ao ingressar no corpo discente do Mestrado de História do Atlântico e Diáspora Africana da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Aqui, encontrou o acolhedor incentivo do Prof. Dr. Flávio Gonçalves dos Santos, Coordenador do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Santa Cruz (PPGH-UESC), mostrando o percurso e as possibilidades da feitura de uma revista para esse fim dentro do universo acadêmico.
Oportunamente, a ideia foi apresentada aos demais integrantes da Turma ll do PPGH-UESC através do “esqueleto” da revista Banzar e da proposta a ser discutida. A Turma aprovou a ideia e, inclusive, o nome Banzar foi aceito unanimemente, posteriormente acrescido de Magazine. A partir de então começamos a traçar o perfil da revista.
“Banzar é uma palavra de origem hauçá-africana, e significa pensar, refletir, matutar, pasmar, espantar. ”
Detalhe interessante, tudo isso aconteceu em plena pandemia do Covid-19, via videoconferência. Esse se tornou o instrumento pelo qual o grupo de treze mestrandos desenvolveu uma sólida relação de amizade, baseada na empatia e compreensão dos limites impostos a cada um pela situação de isolamento social.
Entre aulas e reuniões (videoconferências) para construção mais detalhada da Banzar, ainda sobrava disposição para “descompromissos”: fizemos festinhas, comemoramos o São João, aniversários… tudo on-line.
Iniciando uma nova disciplina, Gestão e Execução de Projetos, ministrada pela Profa. Dra. Kátia Vinhático Pontes, acabamos por perceber uma consonância perfeita entre ela e a revista, pois com a maestria de Kátia a revista se tornou um projeto de caráter extensionista. Mas não para por aí; na disciplina Teorias e Métodos da História, a Profa. Dra. Laila Brichta nos trouxe todo o aporte referencial teórico-metodológico para a construção da Banzar Magazine.
Aguardando texto de outros autores
Tempos Pandêmicos
Por Alice Antônia Alcântara Gomes
Antes da pandemia eu ia pra escola, fazia trabalho na casa das minhas colegas, comia em restaurantes, viajava e fazia GR. E também não tinha muito tempo de ficar no celular. Andava pela rua. Agora na pandemia a gente está tendo que sair de máscara, quase não pode sair, tenho aulas on-line, uma coisa que mudou é que estou tendo curso com pessoas fora do Brasil de ginástica e isso é bem legal, porque é uma oportunidade nova. Tenho mais tempo livre agora, antes fazia mais coisas. Nesse tempo livre, estou lendo mais do que eu lia e aprendi a fazer mais maquiagem, lettering e penteado. E a Netflix vai me contratar por conta do tanto de série que eu assisto.
“Agora na pandemia a gente está tendo que sair de máscara, quase não pode sair, tenho aulas online, uma coisa que mudou é que estou tendo curso com pessoas fora do Brasil de ginástica e isso é bem legal, pq é uma oportunidade nova.”
As aulas estão sendo muito diferentes, porque você não enxerga as pessoas, não tem uma classe, não dá pra conversar. É muito difícil prestar atenção, se concentrar em casa, por causas das distrações. É mais difícil para tirar dúvidas. As provas on-line, antes eu escrevia, agora digito e acho que a gente não aprende na prova on-line, porque dá pra pesquisar a qualquer hora. Acho que elas estão mais difíceis.
Alice Antônia Alcântara Gomes, 13 anos, estudante do 8º ano do Ensino Fundamental.

